Nunca o cinema brasileiro comercial nos trouxe tantos filmes bons como atualmente. Desde a sua retomada, iniciada em 1994 com “Carlota Joaquina”, o nível das produções nacionais foi crescendo drasticamente e hoje temos bagagem o suficiente para dizer que as grandes produções brasileiras não ficam devendo em nada para os vazios blockbusters hollywoodianos.
“As Melhores Coisas do Mundo” é um longa-metragem brasileiro que entrou em cartaz este ano e fez um sucesso satisfatório. Bastante divulgado pela televisão e com o nome do “ex-ator de Malhação” Fiuk estampado no elenco, as pretensões comerciais da Warner quanto à este filme não eram pequenas. O que me deixava curioso era saber o que fazia de “As Melhores Coisas do Mundo” especial como um filme, e não como um produto.
Mano (Francisco Miguez) é um adolescente de 15 anos que vive com seu irmão, Pedro (Fiuk), e sua mãe (Denise Fraga). Sua vida não é nada diferente da maioria dos adolescentes de hoje em dia: cheia de paradoxos. Ao mesmo tempo em que passa por momentos incríveis, ele também precisa encarar situações desconfortantes e que exigem maturidade do rapaz. Entre elas, a separação do pai (Zé Carlos Machado) e o ambiente escolar. O filme consegue muitos pontos por retratar com uma fidelidade impressionante o mundo adolescente. E ninguem melhor pra dizer isso do que um próprio, que vê muita coisa que aparece na tela acontecer de verdade com amigos e conhecidos, e até comigo mesmo.
O filme tem seus erros. A direção de Laís Bodansky em certos momentos é insegura, com cortes e movimentações de câmera desnecessários na tentativa de reforçar as emoções dos atores. E também não se esforça em contar mais sobre os estereótipos representados, como a sapatona do colégio ou a blogueira fofoqueira. Sem o devido aprofundamento nesses personagens, o longa fica com uma vibe artificial e incômoda.
Em termos de atuação, posso dizer que o trabalho foi bem feito. Alguns atores soaram pouco naturais, como os amigos de Mano (e o excesso de gírias, querendo mostrar mesmo que eles são adolescentes), mas o elenco principal se saiu muito bem em todas as cenas. Francisco Miguez é uma revelação muito bem vinda, e executa um difícil papel com bastante sinceridade. Fiuk mostrou que não é só o “filho do Fábio Jr.” e, ao menos para mim, ganhou meu respeito. Nas cenas dramáticas em que Pedro passa, com narrações em off do mesmo, o ator consegue transpor os sentimentos de seu personagem de forma convincente.
Muitos personagens interessantes nos são apresentados. O que mais me chamou atenção foi o professor de violão de Mano, bem interpretado por Paulo Vilhena (com um visual bem diferente também). A relação do personagem principal com ele é quase a de um irmão, fazendo as vezes de psicólogo também. Os diálogos entre os dois são cenas interessantes e deixam o filme com um tom mais sério. E nunca pensei que “Something”, dos Beatles, se encaixaria tão bem em um filme brasileiro!
É um filme que recomendo principalmente para os meus colegas, amigos e conhecidos que fazem parte desse mesmo mundo. A retratação é fiel e os erros não comprometem. Mais uma vez, temos uma produção nacional entre os grandes filmes do ano. Não deixe de conferir.